UM PASSEIO (...) Cemitério da Consolação, que para muitas pessoas é um local sombrio, triste e somente visitado em enterros. Mas o que muitos nem imaginam é que o Cemitério da Consolação abriga diversas obras de arte que adornam os túmulos e fazem parte da história da cidade de São Paulo.
A visita monitorada faz parte do projeto Arte Tumular, idealizado pelo Serviço Funerário do Município de São Paulo. Para agendar uma visita basta ligar para o telefone (11) 3396-3832. É uma ótima iniciativa, afinal o Cemitério da Recoleta em Buenos Aires é visitado por milhares de turistas a procura do túmulo da Evita Peron e em Paris várias pessoas vão ao Père-Lachaise para visitar o túmulo do Jim Morrison. E porque não visitar o Cemitério da Consolação onde estão enterradas diversas personalidades brasileiras como Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral, Mário e Oswald de Andrade, Victor Brecheret, entre outros?
Agendei a visita para o horário das 9h e neste dia só havia eu de participante. O guia que me acompanhou durante todo o passeio foi o Francivaldo Gomes, conhecido como Popó devido a enorme semelhança com o Acelino Popó Freitas, o Popó sabe tudo sobre o Cemitério da Consolação e conhece a história dos túmulos e das pessoas que estão enterradas naquele local.
O Cemitério da Consolação, projetado por Carlos Rath, foi inaugurado no dia 15 de agosto de 1858 e foi o primeiro cemitério público da cidade de São Paulo. Mas foi por volta do ano de 1829 que o então vereador Antônio Alves Alvim deu início a ideia da construção de um cemitério público na terra da garoa.
Naquela época os corpos eram sepultados nas igrejas ou em seus arredores, pois acreditava-se que quanto mais próximo um corpo estivesse dos santos, mas fácil seria a entrada de sua alma ao Paraíso. Porém este costume passou a ser condenado pelos higienistas da época, pois os restos mortais produziam mau cheiro (miasmas) que causavam a maioria das doenças daquele período. Desta forma, a construção de um cemitério era questão de saúde pública.
A Capela do Cemitério (foto abaixo) foi construída no ano de 1902 e sua obra foi financiada pela Marquesa de Santos (Domitila de Castro Canto e Melo) que doou 2 contos de réis para a construção. A Administração também foi construída na mesma época.
Na parede posterior da Capela tem um sino que me deixou intrigada e o Popó me explicou que ele é utilizado para que possa chamar os funcionários, já que o cemitério é bem grande. Cada funcionário é identificado por um tipo de badalada e, desta forma, o Popó é atendido prontamente!
Na foto abaixo, o túmulo da Marquesa de Santos:
No túmulo ao lado, está enterrado João da Silva Machado, conhecido como Barão de Antonina do Sul:
O brasão do túmulo acima contém a figura do índio em posição de submissão diante do leão que é a metáfora do homem branco que carrega as armas, o evangelho e o terço para catequizar os indíos das tribos.
A história que mais me deixou impressionada foi a do poeta e abolicionista Luís Gama (túmulo da foto abaixo). Aos 10 anos de idade foi vendido como escravo pelo próprio pai para quitar uma dívida de jogos de azar. Foi escravo doméstico em uma fazenda da cidade de Lorena/SP, onde aprendeu a ler e escrever com a ajuda de um estudante que se hospedou na fazenda. Alguns anos depois, mudou-se para São Paulo e tornou-se advogado, escritor e abolicionista.
Na foto abaixo está o túmulo de Ramos de Azevedo, arquiteto que projetou diversos edifícios na cidade de São Paulo e inclusive o portal de entrada do Cemitério da Consolação:
Antônio Agú, fundador da cidade de Osasco/SP também foi sepultado no Cemitério da Consolação:
Na foto abaixo o túmulo de Líbero Badaró, médico e fundador do jornal O Observador Constitucional:
Entre os vários túmulos do cemitério, o que eu mais queria ver era o da Olívia Guedes Penteado e do marido Inácio leite Penteado. A escultura que está sobre o túmulo recebeu o nome de “Sepultamento” é de autoria do escultor Victor Brecheret. Esta escultura foi premiada em Paris no ano de 1923:
A visita durou aproximadamente 50 minutos e como só havia eu de visitante, tive a oportunidade de pedir ao Popó para me levar aos túmulos que gostaria de visitar e contar sobre as personalidades de meu interesse. A visita foi muito interessante e será necessário voltar para conhecer mais túmulos e um pouco mais da história de ilustres figuras que estão sepultadas ali. Sem dúvidas é um programa imperdível, cultural e nada mórbido! rs
Fonte: De Viagem S/A
Por: Izabella S. V. Penna Escabeche