Astros brasileiros colocam Anderson Silva na galeria de ídolos do país
‘Spider’ em grande fase
Dentro do octógono, um artista marcial, com vasto repertório de golpes e uma máquina de quebrar recordes. Fora dele, um atleta de conduta exemplar, alheio a polêmicas e confusões. Casado há 14 anos, pai de cinco filhos e dono de uma voz peculiar, Anderson Silva é o melhor no que faz. Campeão do peso médio do UFC, ele colocou o Brasil no topo do mundo e garantiu seu lugar na galeria dos principais ídolos do país.
Com quase 200 milhões de habitantes, o Brasil tem no futebol seu filho mais famoso: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. No entanto, nem só desta modalidade vive a pátria amada. De esportes como Basquete, Vôlei, Natação, Judô, Tênis, Boxe, Automobilismo e de outros tantos, surgiram atletas capazes de servir de exemplo e inspirar gerações através de resultados extraordinários. No MMA, modalidade não olímpica e nova se comparado às citadas, Anderson Silva se consolida como ídolo nacional, que cativa um povo que ainda se habitua às artes marciais mistas.
Principal jogador da história do Basquete brasileiro, Oscar Schmidt está entre os seduzidos pelo talento de Anderson Silva. Longe de ser expert no assunto, o “Mão Santa” e sua família param diante da televisão quando Anderson adentra ao octógono. Do alto de seus 2,05m e referência para os jovens, Oscar não tem dúvidas de que “Spider” reúne características de um herói nacional.
“O primeiro passo para se tornar ídolo é ter resultado, sobretudo defendendo a seleção brasileira e dando bons exemplos. O Anderson não tem seleção, mas representa o Brasil, como um piloto de Fórmula-1. Ele tem resultado, é o melhor e um grande exemplo. O Anderson é uma ótima pessoa pelo que a gente vê de fora, um cara admirável. O Anderson pode lutar o tempo que quiser porque ele é bom para caramba. Não acompanho muito o UFC, mas quando ele está lutando eu assisto”, comentou Oscar, em entrevista à TATAME, por telefone.
Mão Santa e família param para ver Anderson
Campeão do UFC desde 2007, Anderson Silva, por meio de suas grandes exibições, que fazem adversários calejados parecerem principiantes, aproximou milhões de pessoas ao MMA e ganhou notoriedade. Atualmente, nenhum lutador canarinho é tão conhecido como “Spider”, nem mesmo o popular Vitor Belfort, a quem nocauteou no ano passado.
Popó vê Anderson abaixo de lendas
Mesmo com tanto sucesso, Anderson, ao que parece, não deixou o sucesso subir à cabeça. A postura de não se envolver em polêmicas, assim como evitar guerra verbal com os oponentes, é um dos pontos que devem guiar um ídolo de sua envergadura. A tese é defendida pelo ex-campeão mundial de Boxe, Acelino “Popó” Freitas, que exalta o lado pessoal do compatriota.
“Sem dúvida nenhuma, não só o talento, mas o carisma também forma um ídolo. Ser pai, mostrar os filhos no octógono, ter essa ligação com a família, é fundamental, ainda mais nos dias de hoje. Não é questão de ser bom somente no que faz, tem o lado da família também. Independentemente de classe social, ele tem que mostrar realmente que é o Anderson bom dentro e fora do octógono. E isso ele já faz”.
Apesar dos elogios, Popó acredita que Anderson Silva precisa mostrar ainda mais para chegar ao patamar do ex-tenista Gustavo Kuerten e de Ayrton Senna, tricampeão mundial de Fórmula-1, que teve a carreira abreviada por um grave acidente.
Para Popó, campeão precisa mostrar mais
“O Anderson já caiu nas graças do povo, mas para compará-lo com o Guga, Ayrton Senna e Popó, ele vai ter que ralar mais um pouco. O MMA é um esporte que ainda não é regulamentado no Brasil, não é olímpico e, mesmo crescendo muito, temos que ir com calma”, ponderou.
O ex-pugilista também vê outra razão para Anderson ainda estar aquém de Senna e Guga. Segundo Popó, os brasileiros brilhavam sozinhos, enquanto “Spider” divide as atenções com Junior Cigano e José Aldo, também campeões do Ultimate.
“Tudo tem sua época e agora é a fase do MMA. Temos o Cigano, José Aldo, não existe uma concentração, então, com três, temos que dividir as atenções. Na época do Senna era só o Senna, do Guga, era só o Guga, e na época do Popó, era só o Popó. Agora temos três lutadores de qualidade e que dominam suas categorias. A fama é para os três, mas o Anderson está no caminho certo e será um grande ídolo”.
Gustavo Borges rasgou elogios ao compatriota
Medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992) e Atlanta (1996), Gustavo Borges, um dos expoentes da Natação brasileira, acompanha o trabalho de Anderson Silva no UFC. Resultados, comprometimento, disciplina e busca pela superação ajudam a forjar um ídolo, segundo o ex-nadador, mas, há casos em que determinada característica do atleta, como o carisma, acaba deixando algumas marcas em segundo plano.
“Ser ídolo é como ganhar um cargo, que requer várias responsabilidades. Tem gente que não gosta de atenção, que não quer mudar. Há questões de conduta, de comportamento, de atitude e isso implica muita gente. Uma vez na mídia, você está servindo de exemplo para as pessoas, aos jovens. Existe uma questão de devolver a essas pessoas que te admiram, que se espelham em você, mesmo que à distância ou por uma televisão, um respaldo positivo”, defendeu Borges.
O fato de o MMA ser um esporte relativamente novo e ainda visto com certa dose de preconceito não deve tornar a jornada de Anderson mais complicada em relação aos aspirantes a ídolo de outras modalidades. Isto porque, de acordo com Gustavo Borges, o esporte ganhou visibilidade, principalmente com o apoio da TV aberta.
“O MMA tem hoje uma divulgação muito grande. Apesar de ter um público específico de praticantes, muita gente gosta e assiste. Acho que tem uma projeção cada vez maior na televisão, o que interfere na vida das pessoas que, mesmo sem querer, acabam esbarrando nas notícias e no que está rolando. Por isso que o Anderson se torna um ídolo: ele foge de um mundo específico e cai no gosto e no interesse das pessoas. As pessoas falam “Anderson Silva, sei bem quem é, mas não sei qual o peso dele, se é médio ou peso pesado’. No caso, eu sei que ele é peso médio, mas pouco importa. Ele é foda e campeão mundial”.
Aurélio Miguel considera atleta um fenômeno
Sinônimo de Judô, Aurélio Miguel, medalha de ouro nas Olimpíadas de Seul (1988), opina que Anderson Silva não deve nada em relação a outros ídolos e fala da importância de ter um representante brasileiro engrandecendo a imagem do país.
“Eu acredito que o Anderson atingiu o nível dos grandes ídolos. Ele está no maior evento de MMA e elevou ainda mais a imagem do Brasil. A projeção disso é muito maior quando a gente vai para os Estados Unidos. É um brasileiro que está levando o nome do Brasil. Tem o jeito de ser do Anderson fora do octógono, com seu jeito de falar e tudo. É uma pessoa que não mostra agressividade, está sempre tranquilo e sossegado. É bom ter um brasileiro levando sempre o país ao lugar mais alto”.
Aos 37 anos, Anderson Silva não tem mais nada a provar no UFC, evento pelo qual bateu o recorde de defesas de título e de nocautes. Invicto na organização, foge do estereótipo de lutador. Sem tatuagem, orelha estourada e cicatrizes aparentes, Anderson não faz cara de mau. Sorridente, zomba de sua própria voz fina em entrevistas e comerciais. Cada vez mais popular e idolatrado por onde passa, ajuda no crescimento do esporte e, assim como no octógono, está sempre um passo à frente dos demais.